sábado, 1 de junho de 2013

Novas tecnologias já estão mudando radicalmente o ambiente escolar

De acordo com especialistas, é necessário repensar a estrutura da escola e os modelos pedagógicos para acompanhar os novos tempos

Tablets, lousas interativas, aplicativos desenvolvidos especialmente para educação... A tecnologia chegou para ficar nas salas de aula e exige que a escola e os professores se adaptem aos novos tempos. Para o professor José Moran, doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor de educação a distância da Universidade Anhanguera-Uniderp, apesar de tantas possibilidades, a educação ainda se encontra em uma fase de transição complicada.
Professor Jose Moran USP 2 (Foto: Divulgação)Professor José Moran (Foto: Divulgação)
“Já não aceitamos o modelo industrial (embora mantenhamos muitas de suas estruturas organizacionais e mentais), mas também percebemos que não participamos plenamente da sociedade do conhecimento; só incorporamos alguns dos seus valores e expectativas. A implantação das tecnologias nas escolas segue, em geral, três etapas. Na primeira, elas são utilizadas para melhorar os processos consolidados, automatizando-os, digitalizando documentos e com isso otimizando o desempenho e os custos. Na segunda etapa, a escola insere parcialmente as tecnologias no projeto educacional. Abre laboratórios conectados à Internet, cria uma página para divulgar sua proposta, seus cursos e alguns aplicativos de pesquisa e comunicação. Na terceira, que começa atualmente, com os avanços da banda larga e da mobilidade, as escolas estão repensando seu projeto pedagógico, seu plano estratégico e introduzem mudanças significativas como a flexibilização parcial do currículo, com atividades online combinadas com as presenciais. Essa nova escola se tornará mais visível nos próximos anos, com a chegada da geração digital à vida profissional”, explica.
A pesquisa TIC Educação 2012, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), traça um panorama do uso das tecnologias no ambiente escolar brasileiro e mostra na prática que realmente ainda temos que avançar. A amostra da pesquisa foi composta por 856 escolas públicas e privadas do Brasil, selecionadas a partir do Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) 2011. Foram entrevistados professores de português e matemática, alunos do Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio, coordenadores pedagógicos e diretores. A pesquisa revela que cresce a presença de computadores portáteis nas escolas públicas, mas a velocidade ainda se mostra como uma limitação importante. O número de equipamentos disponíveis por aluno também é outro fator limitante para o uso efetivo do computador  e da Internet nas atividades escolares.
Alexandre Barbosa, gerente do CETIC.br (Foto: Divulgação)
Alexandre Barbosa, gerente do CETIC.br
(Foto: Divulgação)
“Observamos um crescimento da infraestrutura, mas ainda está longe do ideal, principalmente na escola pública. A política do governo federal de ter um computador por aluno é importante, porém, precisamos de mais iniciativas. Capacitar o professor também é outro grande desafio. Cerca de 99% dos professores são usuários de Internet e muito têm computador em casa, mas na escola é o lugar onde eles menos usam tecnologia. O aluno  já chega na sala de aula sabendo mais do que o professor”, ressalta Alexandre Barbosa, gerente do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br), ligado ao CGI.br.
Para o professor Moran, nessa nova era educacional já não cabem a acomodação e os roteiros prontos. “Temos muitos professores que preferem receber tudo pré-formatado e não ter que planejar nem preparar detalhadamente cada aula e atividade. Isso explica o sucesso dos sistemas de ensino que oferecem aulas prontas sobre todas as matérias da educação básica. Os programas de formação continuada são importantes, primeiro no domínio técnico, depois no domínio pedagógico, nas aplicações possíveis dentro das metodologias escolhidas por cada escola e por cada profissional. Os programas de capacitação não podem ser ocasionais, mas continuados, com certificação", destaca.
De acordo com a pesquisa TIC Educação 2012, é maior a presença de computador e Internet nos domicílios dos alunos. Entre os alunos das escolas públicas, 62% possuem computador em seus domicílios. Houve também crescimento dos alunos que fazem uso da Internet pelo celular (44% entre alunos do ensino público e 54% no ensino privado). É igualmente crescente a proporção de alunos que declaram ter aprendido a usar o computador e/ou a Internet sozinhos. Pela primeira vez, desde 2010, a forma de aprendizado mais citada foi “aprendeu sozinho”. Mas, será que a tecnologia não deixa o estudante disperso? Isso depende de como ela será utilizada, explica Moran.
“Os aplicativos mais interessantes que conheço ajudam no aprendizado de línguas. Cursos inteiros podem ser acompanhados por podcast ou vídeos, com testes adequados e ambientes de colaboração como os que acontecem em redes sociais. Gosto, por exemplo, doLearnEnglish do British Council com histórias em capítulos, jogos, desafios e integração com Facebook e Twitter. Outro semelhante é o ESLPod com histórias do cotidiano e explicações das principais expressões em ritmos diferentes. Tem aplicativos como o Stitcherque organiza os programas de rádio e podcast por temas e línguas e são extremamente variados e atualizados e podem ser acessados a qualquer hora e de qualquer lugar. O My Class Schedule é um aplicativo para que o estudante organize horários de estudo, notas e todas as informações do seu curso. A tendência é a de termos muitas mais soluções para todas as nossas necessidades. O que nunca pode faltar é a vontade e o gosto por aprender”, ressalta.“A inserção no mundo das tecnologias conectadas é um caminho importante para preparar as pessoas para o mundo atual, para uma sociedade complexa, que exige domínio das linguagens e recursos digitais. Em educação não podemos esperar que todos os outros problemas sejam equacionados, para só depois ingressar nas redes. O uso coerente das tecnologias atuais contribui para facilitar e ampliar as formas de pesquisar, comunicar-se e divulgar os resultados, mas também há problemas como dispersão, superficialidade e acesso prematuro a conteúdos violentos e inadequados. O ideal é que estas tecnologias Web 2.0 – gratuitas, colaborativas e fáceis – façam parte do projeto pedagógico da instituição para serem incorporadas como parte integrante da proposta de cada série, curso ou área de conhecimento. Quanto mais a instituição incentiva o trabalho com atividades colaborativas, pesquisas, projetos, mais elas se tornarão importantes”, diz o professor.

Moran destaca alguns programas e aplicativos que podem tornar o aprendizado mais interessante:

No futuro, Alexandre Barbosa acredita que a tecnologia vai mudar o papel da escola e do professor.
“A construção do conhecimento será coletiva. A escola precisa repensar seu espaço e o professor também, pois, cada vez mais, seu papel é de mediador. Os projetos pedagógicos nasceram quando existia somente o quadro negro e o giz. Acho que as novas tecnologias vão transformar radicalmente a escola, e estamos só no começo dessa revolução”, completa o gerente do CETIC.br.

Literatura e dispositivos eletrônicos - íntegra

http://redeglobo.globo.com/globoeducacao/videos/t/edicoes/v/globo-educacao-01062013-literatura-e-dispositivos-eletronicos-integra/2603722/

É possível educar pela arte? - íntegra

http://redeglobo.globo.com/globoeducacao/videos/t/edicoes/v/e-possivel-educar-pela-arte-integra/2294234/

Tecnologia contribui para o aprendizado de alunos no Piauí

Projeto do MEC em parceria com empresa privada levou infraestrutura para escolas do Município de José de Freitas e aumentou o Ideb da região

Professores do munícipio de José de Freitas, no Piauí, usando lousa interativa (Foto: Divulgação)Professores do munícipio de José de Freitas, no Piauí, usando lousa interativa (Foto: Divulgação)

















O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do município de José de Freitas, no Piauí, era um dos mais baixos do Brasil: 3,2 nas séries iniciais (o indicador pode variar de 0 a 10). A história começou a mudar em 2009, com a implantação do projeto 'Aprendendo com Tecnologia', realizado pelo Ministério da Educação (MEC) em parceira com a empresa Positivo Informática e apoio da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) do Piauí. As escolas receberam lousas interativas, netbooks e infraestrutura moderna, com isso, alunos e professores ganharam um estímulo extra para aprender. Após quatro anos de projeto, os resultados não poderiam ser melhores, conta Jacquelane Cruz, coordenadora do projeto na Seduc.

“Acompanhei a implantação desde o início e vi a mobilização das pessoas. É com grande satisfação que constatamos o desempenho dos alunos melhorando. Em 2012 nosso Ideb chegou a 4,7 pontos, alcançado a média nacional. Os professores também estão mais motivados. Eles tiveram que correr atrás para aprender a mexer com a tecnologia, muito não tinham sequer computador em casa. Foram oferecidas mais de 8.000 horas de formação para os docentes e todo ano temos oficinas pedagógicas”, explica a coordenadora.
O projeto é realizado em nove escolas do município e atende estudantes do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Entre os recursos pedagógicos implantados estão as Mesas Educacionais, que estimulam os alunos a trabalharem em grupo, e o Aprimora, que combina atividades interativas multimídia, sugestões para professores, avaliações periódicas e relatórios de desempenho dos alunos nas disciplinas de matemática e língua portuguesa. Ana Ribeira, professora da Escola Agripina Portela, uma das participantes do projeto, conta que viu a necessidade de se aprimorar para poder ajudar os alunos.

“Eu usava pouco o computador até começar o projeto, mas, quando vi que poderia ser interessante para mim e para os alunos, me doei ao laboratório. Aprender matemática com a ajuda de imagens é muito bom para os alunos, e os exercícios de português também são excelentes. Alguns professores são mais acomodados, mas a maioria procura se qualificar”, ressalta.

Professores buscam qualificação em tecnologia da educação 

Criados em um mundo com computadores, celulares e jogos eletrônicos, os alunos de hoje geralmente “sacam” muito mais de tecnologia do que seus professores. Na tentativa de se qualificar, os docentes procuram cursos como os oferecidos pelo grupo Planetapontocom, que há 10 anos desenvolve soluções em tecnologia para educação. No curso 'Por Dentro dos Meios', professores e gestores escolares estudam a evolução das formas de comunicação ao longo da história da humanidade e são levados a compreender a importância de incluir novos métodos, meios e linguagens no seu trabalho em sala de aula. De acordo com Simone Gontijo, presidente do Planetapontocom, é importante preparar os professores para o desafio que estamos vivendo na educação.
Silvana Gontigo, do grupo PlanetaPontoCom (Foto: Divulgação)
Silvana Gontigo, do grupo
Planetapontocom (Foto: Divulgação)
“Cada vez mais a tecnologia está incorporada no cotidiano. A Internet, as redes sociais, tudo isso muda a forma como as pessoas se relacionam, como elas pensam, como interagem... Logo, isso não pode ignorado na área da aprendizagem”, explica a presidente.

O curso é realizado a distância e não tem custo para os professores, quem paga são as redes de ensino públicas ou privadas interessadas em qualificar os profissionais. Com duração de 80 horas e 9 semanas, ele é dividido em cinco módulos: Nova Sociedade e Novas Educações; Instrumentos para pensar, se expressar e educar; Ecologia cognitiva e novas interfaces; Planejamento da comunicação nas ações educativas; e Gestão de projetos de mídiaeducação. “Cerca de 1700 professores já fizeram o curso e 40 mil alunos foram impactados pelo que os docentes aprenderam. Devemos abrir uma nova turma em agosto”, adianta Simone.

Centro de Estudos Avançado (CEA), em Santo Antonio de Platina, no Paraná, oferece formação para os docentes interessados em aprender a lidar com as TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). Segundo o professor Nelson Mascaro, a ideia surgiu da necessidade de ajudar os docentes a utilizar a tecnologia na sala de aula.
Professor Nelson Mascaro dá aulas de tecnologia para professores (Foto: Divulgação)
Professor Nelson Mascaro em sala
de aula  (Foto: Divulgação)
“As disciplinas de informática e tecnologias em sala de aula são exigidas em alguns concursos públicos. Então foi proposto o curso, que tem grande procura hoje em dia. A tecnologia é a facilitadora e não o objetivo. Na parte teórica o professor deverá rever conceitos de educação, repensar a nova escola a partir da Lei de Diretrizes e Bases, repensar o ambiente escolar e o ambiente social em que sua escola está inserida. Somente após questionamentos profundos sobre estes assuntos é que o professor poderá elaborar um plano de ação e encontrar na tecnologia ferramentas que facilitam o maior objetivo que é educar. Há uma transição entre a parte teórica e a parte prática do curso que é o reconhecimento do domínio de diversas tecnologias e linguagem que o aluno possui e que o distanciam do professor. Usamos aplicativos gratuitos para tablets, smartphones e notebooks que podem ser baixados gratuitamente pela Internet. Para este curso aprender significa fazer”, ressalta o professor.

O professor deve ter o seu próprio notebook para fazer o curso e o custo é de R$ 400, com turmas de 20 alunos. Escolas e empresas interessadas em oferecer as aulas para seus professores também podem contratar a equipe do CEA. Mais informações por meio do telefone (43) 3534-3349 ou e-mail contato@cursocea.com.br

Universidades disponibilizam conteúdos on line

Para estimular o uso da tecnologia na educação e incentivar o relacionamento entre professores, alunos e comunidade, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) lançou no dia 29 de abril o Portal e-Unicamp. Os vídeos, animações e aulas de diversas disciplinas podem se tornar uma ferramenta útil para a comunidade escolar, como explica a professora Vera Nisaka Solferini, coordenadora associada do grupo gestor de tecnologia educacional da Unicamp.

“O conteúdo pode ser baixado livremente. Temos muito material principalmente para alunos do Ensino Médio. Acho que a tecnologia na educação ainda sofre preconceito porque as pessoas lembram da educação a distância de antigamente, ou seja, ficou associada a um ensino de baixa qualidade. O ambiente virtual é novo, tem outra linguagem, que precisamos aprender a usar. A escola deve mudar, ninguém aguenta ficar sentado durante horas ouvindo o professor falar, precisamos de outras estratégias, aí que entra a tecnologia, tornando  processo de aprendizado mais interativo”, ressalta a professora.

A Unicamp e a Universidade de São Paulo (USP), que lançou o portal e-Aulas em 2012, seguem os passos de instituições internacionais como Harvard, Yale, Columbia, Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Princeton, que já disponibilizam seus conteúdos na Internet.